quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

DING FRING


De repente, em pleno dezembro, já me vejo comprando livros, acessando sites, me informando sobre as próximas férias, a próxima viagem. E a última? Será que nem aconteceu ou simplesmente suas magníficas memórias já estão bem guardadas em alguma região misteriosa do cérebro, ou pior, do que resta dele? E a promessa de que postaria o restante do material quando voltasse ao Brasil? Também arquivada e esquecida? Talvez, mas sempre fica a lembrança que existe algo inacabado. Quiçá na ilusão de que o tempo tenha parado e uma viagem termine somente quando outra inicia. Não sei, a rotina é muito cruel e nos coloca em “piloto automático” no momento que o avião toca o solo da pista de onde eternamente partimos.

Vou tentar então encerrar com dignidade o blog das últimas férias na tentativa de que, sinceramente, as experiências lá adquiridas se somem com as próximas e que nada tenha sido em vão.

Recorrendo aos arquivos fotográficos, organizados cronologicamente, minha mente se "teletransporta" para fevereiro de 2011 e me faz lembrar da próxima incursão, o dia seguinte da visita às catacumbas:
O Objetivo era  encontrar um brechó recomendado por um querido amigo: Ding Fring.
De metrô, chegamos na Rue de Belleville, 139, 7° distrito (arrondissement). Na porta o clássico aviso - já volto - frustrou nossa expectativa. Para não ficar aguardando parados no frio, resolvemos dar uma caminhada...



...e encontramos a Paroisse Saint Jean Baptiste de Belleville, na mesma Rue de Belleville, nº 139, que antes de tudo, serviu para descansar e nos abrigar do frio e da fina chuva que começava a cair. Como bônus, mais beleza e arquitetura gótica...




...vivendo em harmonia com inusitado objeto de arte contemporânea (ou seria apenas restos de decoração natalina mal retirada?).



Mesmo assim, seja lá o que fosse, gostei!

Muita história nas paredes...





...a triunfal saída...



..e lá estava a suposta "arte contemporânea", desta vez posando de Objeto Voador Não Identificado!




Para não esquecer a crise da zona do Euro (nouveaux pauvres?), cena nem tão incomum em Paris e muito bem conhecida de nós,  brasileiros (avenir nouveaux riches?).




Já ia esquecendo, o objetivo da viagem até o arrondissement 7. A Ding Fring, aberta!



Valeu a pena o cheirinho de mofo do lugar.



Voltamos felizes para o Marais, cheio de sacolas com calças e jaquetas Levi's e bonitas e muito bem conservadas camisas. Tudo por poucos Euros, que dizia o cartaz, seriam revertidos para obras de caridade. A compra perfeita: peças genuínas, únicas, baratas e...sem culpa!!!!!!

sexta-feira, 4 de março de 2011

Les Catacombes de Paris

Sem companhia para esta nova incursão, calço minhas botas e tomo o metrô na estação Art et Métiers, com destino à Denfert Rochereau, linha 3, conexão na estação Châtelet. Acho curioso como um metropolitano tão extenso não possua linhas circulares, transformando em uma estação gigantesca o Forum Les Halles. E ainda assim, a coisa toda funciona muito bem. Número 3 da Avenue Colonel Rol-Tanguy. Eis a entrada das Catacumbas de Paris.



Nem passava pela minha cabeça que poderia haver uma fila. "Relaxa e goza", já dizia uma personagem da política brasileira. Que hora para lembrar da Martha!



Devagarinho, a fila vai andando.



Até que haaaaa...cheguei lá! Recepcionista simpático não? Trata-se do cartaz da exposição "Palermo, diálogos de vida após a morte" do fotógrafo Olivier Meirel.






Fui o último do grupo a ser admitido. O número de visitantes é limitado a 200, quando a entrada é temporariamente interrompida. Pura sorte. Quando comprei meu ticket, os primeiros já haviam desaparecido pelos 130 degraus. Fico livre para ser dono da minha própria aventura, só, rumo ao desconhecido.


O caminho, com iluminação especial, que ora ilumina este solitário deambulante, nada parece com o cenário abaixo.




Em 1858, a Inspeção-Geral de Minas publicou o primeiro mapa geológico de Paris.






Ainda descendo, ouvindo os próprios passos.




No fim do túnel, tem outro...




...e mais outro. Até agora só, com meu pensamentos. 14ºC a temperatura. Uns 10 graus a mais do que na superfície.



Uma luz no fim do túnel e um funcionário recepcionava sem dizer uma palavra. _Bonsoir (boa noite), disse a ele, surpreendendo-me ao lembrar que era dia na superfície.





Esculturas Décure. Nome do soldado que as esculpiu, morto no próprio local, vítima de um desabamento.




Mais um túnel.




E o macabro aviso: Pare! Aqui é o império da morte.





Não parei e lá estava: os domínios da morte.





Entre ossadas depositadas de 1786 a 1788, encontro os primeiros visitantes -  vivos - que desceram antes.




O ar das galerias não era totalmente ruim, mas não dá para dizer que era uma fresca brisa da manhã.


Difícil de fotografar pela proibição de uso de flashes e/ou tripé, foi necessário experimentar diversos ângulos, todos próximos de alguma luz. 






O cemitério no bairro do "Halles" após quase dez séculos de uso,  tornou-se a origem de infecção por todos os habitantes do distrito. Após várias reclamações, o Conselho de Estado, em 9 de novembro de 1785, determinou a remoção  e a evacuação do cemitério dos Inocentes.





 As antigas pedreiras subterrâneas, usadas para construir na cidade, foram selecionados para depositar os ossos. Paris de fato tinha acabado de criar a Inspeção-Geral de Minas, para viabilizar a consolidação das vias públicas comprometidas pelas escavações. O trabalho incluiu obras de alvenaria e a construção de túneis para as escadas.






Atenção, teto muito baixo.



Desde a sua criação, as Catacumbas despertam curiosidade. Em 1787, o Conde d'Artois, futuro Carlos X, desceu em companhia de senhoras da Corte. No ano seguinte, a visita de Madame de Polignac e Madame de Guiche. Em 1814, François 1, Imperador da Áustria. Em 1860, Napoleão III desceu nas catacumbas com seu filho.



A transferência dos restos mortais começaram após a bênção e consagração do lugar em 7 de abril de 1786 e continuou até 1788. Sempre escuro e em uma cerimonia que consiste em uma procissão de sacerdotes. Posteriormente, este local foi, até 1814, recebendo os ossos de todos os cemitérios de Paris.






Um labirinto no coração da cidade, onde guarda os ossos de 6 milhões de parisienses, transferidos a partir do século XVIII e meados do século XIX.





Acessos por vezes com teto baixo, por vezes com piso escorregadio.








Impressionante arquitetura subterrânea.





As escadarias de saída, 83 degraus.






Na saída, tal qual na entrada, encontra-se um desfibrilador, para eventual socorro (parece que aquele que está em cima da mesa chegou tarde!).










Plano de evacuação de emergência, com todo o circuito da visita.








Na saída, atravessando a rua, a loja do ossuário oferece bebidas, café, "traquitanas catacumbísticas" e até livros. Levei um sobre os subterrâneos de Paris para ler na viagem de volta.






E a razão da bandeirinha brasileira que raramente frequenta os 136 museus e 70 locais culturais de Paris: quem atende os turistas é filho de brasileira, casada com francês e - também - fala português como no Brasil. Ele diz que descobre os brasileiros pelo "típico bonjour" tupiniquim, com biquinho! Tente você falar bonjour!






Depois de aproveitar a inusitada facilidade de comunicação e conseguir boas informações, desisti de pegar o metrô para casa e voltei de ônibus. Linha 38 na Avenida Denfert-Rochereau, sentido Boulevard de la Chapelle, parada Strasbourg Saint-Denis. Muito lento, um tanto cheio, mas com vista privilegiada. Foi assim que eu descobri mais um arco do triunfo, a estátua da República e o Conservatorie Natonal Des Art Et Metiers, mas aí ... já é outra história. Bonjour!!


Típica feirinha parisiense.


Advertências:


*As informações históricas foram obtidas no site oficial  http://www.catacombes-de-paris.fr/ , livremente traduzidas e interpretadas.

*Próximo post já será publicado no Brasil, com o material restante. Au revoir!!


segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Musée Rodin - Invalides

Passeio dois-em-um. Vejam só, aqui inauguramos um programa duplo. Tudo porque o Hôtel des Invalides estava no meio do nosso caminho, que levava ao Museu de Rodin. Ao emergir da estação do metrô La Tour Maubourg - linha 8 - a primeira coisa que me chamou atenção foi a Praça Salvador Allende, o que me remeteu imediatamente à infância, quando minha BFF (Best Friend Forever) ainda criança, chegou ao Brasil com metade de sua família, refugiada do regime do ditador-e-assassino Pinochet.



Logo a seguir, surge o Hôtel des Invalides, imponente prédio construído entre 1671 e 1676, por ordem de Luís XIV, para abrigar os soldados feridos no final do século XVII.


No acesso ao Hôtel, uma olhada à direita e, vejam só, Ela.




Pátio interno, curiosos canhões, cada um com nome mais curioso do que o outro.




Como um canhão pode ser chamado de Le Gentil?



Guardando o próprio túmulo, Napoleão I e seu estranho cacuete. Seria Transtorno Obsessivo Compulsivo?



Atrás do altar católico com as bandeiras da França, os restos mortais do Imperador repousam sob a cúpula dourada da Cathedrale Saint-Louis des Invalides, ou simplesmente Église de Dome. Vossa Majestade que nos perdoe, mas já demoramos demais por aqui. Para evitar de pagar para ver um túmulo, saímos pelo lado da igreja...



...e lá estava Ela - Le Tour Eiffel - novamente.



A frente da igreja-catedral-fundos-do-Hotel-dos-Inválidos.



Uma conferida na sinalização e no mapa...



...e encontramos uma fila! Final de inverno, domingo. Quem está na chuva...



É, a fila anda, até que nem tão lentamente neste caso. Eis que, próximo da entrada do Museu de Rodin, um poste com centenas, senão milhares, de adesivos de entrada franca. Os professores e alunos franceses, idosos e outras categorias entram e circulam livremente, cada um com sua cor respectiva e grudados no braço ou no peito.



Enfim, é chegada nossa hora. Entramos no saguão do museu, onde os ingressos foram adquiridos. Dentre os 3 ou 4 tipos de bilhetes disponíveis, escolhemos a exposição permanente, com direito aos jardins "grátis". Entrada somente para o jardim: 1 euro (já vale a pena).




Para recepcionar os visitantes, duas imensas esculturas em fibra de vidro contrastam com o Hôtel Biron, construído em 1728, cujo primeiro proprietário - Duque de Lauzun -  foi guilhotinado durante a Revolução, depois o edifício serviu de sede para a Embaixada da Rússia. Em 1820 deu lugar para o pensionato do Sagrado Coração de Jesus para "moças de boa família". Finalmente, em 1905, o Estado adquire a propriedade, incluindo os 2 hectares de jardins e serviu como residência para Rodin, Matisse, Jean Cocteau,  Isadora Duncan, dentre outros.




Rodin doou ao Estado a totalidade de sua obra porque queria vê-la reunida em um museu instalado no Hôtel Biron, o que ocorreu em 1919, dois anos após sua morte.

O Portal do Inferno, de Rodin.


São tantos os detalhes que, a meu ver, é melhor tirar uma foto e ficar saboreando em casa, aos poucos...



...caso contrário as costas e os olhos podem doer de tanto usar uma das lunetas instaladas para esse propósito.


Logo ao lado do Portal, uma vitrine com inacreditável número de esculturas, de Rodin, em mármore. Também dá para ficar horas admirando-as, mas se cair nestas "tentações", teria que mudar de vez para Paris, aliás, creio que terei de carregar para sempre esta "maldição", pois o que senti da primeira vez que toquei o solo de Paris e sinto, cada vez mais forte, é a vontade de ficar aqui para sempre.


Deixando de lado os sonhos impossíveis, a viagem continua, desta vez com esculturas em bronze de Pierre de Vissant.


Nu sans tête ni Mains.




Já embriagado de tanta beleza e genialidade, vejo arte até no banco abandonado em um canto do jardim!



Sequência de bronzes de Rodin em uma pracinha de forma circular.







 Os toilettes, em prédio anexo. Seria o prédio usado por Isadora Duncan como escola de dança? Não encontrei indicações a respeito.



E no final da caminhada pelos jardins, uma das mais célebre obras de Rodin: O Pensador.





No interior do museu.


le Baiser, obra "escandalosa" para a época. O famoso O Beijo, de Rodin.


Vista dos jardins, parcialmente cobertos para preservação durante o inverno, a partir do Hôtel Biron.





Masque de Camille Claudel, com quem Auguste Rodin manteve longo "affair".


L'illusion, Soeur d'Icare - Rodin.

Clotho - Camille Claudel.

Detalhe de La Tempête, de Rodin.


Buste d'Auguste Rodin por Camille Claudel.


Le Cri - Rodin.


Le père Tanguy - Vincent Van Gogh.


L'Apotheose de Victor Hugo - Rodin.


Main sortant de la Tombe - Rodin.


Femme nue - Auguste Renoir.


Vue du Viaduc,Arles - Vincent Van Gogh.


 Tête de Saint Jean-Baptiste sur on plat - Rodin.